20.9.07

Ao contrário de mim, o rio espelhava calma. Sem inquitações era um manto prateado baço, sem se fazer ouvir,nem mesmo no típico sussurro de margem. Eu não o ouvi!
As luzes da ponte brilhavam a jusante. Com a atmosfera saturada, assemelhavam-se a penduricos de lampadas de uma rua de entrada de festas tipicas, quase longínquas.

Lá dentro falou-se de quase muito. Com um tom de voz a variar entre a afonia e o de cama, falaste, falaste, falámos...eu tambem falei, quando, percebo agora, que deveria apenas ouvir. Esqueço-me frequentemente, mas devia exigir-me o silêncio. Quando estou cansado e o raciocinio da minha conversa começa a tornar todos os assuntos relativos, é o silêncio que não está a ocupar o devido espaço.
Elogiaste-me monstruosamente, enquanto eu relativizei olhando para a TV ao canto da sala, várias vezes, desculpando-me com uma ou outra imagem. A verdade é que em mim não têm cabido emoções relativas a enaltecimentos, definições agradáveis de mim, envaidecedoras... Comiserei me que assim fosse quando deitei a cabeça na almofada, horas depois.
Agradeço as comparações elogiosas com personalidades carismáticas, quando eu apenas tentava forma de me comparar com algo, o que quer que fosse. Em vão, tinha de desolhar, para não enlagrimecer.
O senhor de servir do restaurante curtou o bigode, ficou mais novo, no minimo, mais jovem...de aspecto.É razoavel pensar que sim, mas eu nunca o tinha visto, nem mais novo, nem mais velho, e talvez para mim, ele tenha a mesma idade, e nunca tenha ou tenha tido bigode...para sempre.

O muro interrompia-se por um instante, um metro ou dois, o suficiente para que sentados eu não te alcançasse. Não tanto quanto querias, seguramente menos.
Sentamo-nos os dois, frente a frente.
Eu olhava-te a ti, á ponte, ás festas longinquas, á lua que um palmo acima da tua cabeça, num dos seus quartos, mostrava a pele torrada, tons de fogo embaciada.
Quando a clássica estrela cadente atravessou o céu entre a tua cabeça e a lua, para ti só comentei.
Em mim...estarreci, confundi-me, baralhei-me, olhei para trás, para a frente, no tempo, para o lado, para o outro, no espaço, para ti, para o chão, novamente na tua direcção, mais para a profundidade do plano.
Lamento, podia ter-te desejado. Sorrias ali, á distância de um passo, sentada, e eu não tive coragem. Cheio de temor, dúvidas, remorsos, cansado, exausto, magoado, duro, frágil,rígido, cobarde, fraco, empertigado, não tive coragem.

Estupido...Desejei outra coisa qualquer...

3 Comments:

Blogger Z said...

Brutal, amigo, brutal...!

setembro 24, 2007  
Blogger Pequenina said...

E pediste o teu desejo à estrela?
Gostei muito do texto!!

janeiro 15, 2008  
Anonymous Anónimo said...

Sim...muito estupido!

junho 24, 2012  

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