30.1.07

Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido

Haruki Murakami

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Esta despedida tem o tamanho do tempo.

Todo aquele que lancei ao destino, ao falhanço, ao riso, ao choro, à mentira,à felicidade, à traição, ao encosto, ao colo, ao conforto... enfim, a Ti.

Concebi no teu tempo o meu. No teu tempo ficou a minha memória de Amor e a tua lembraça do tempo de Amar.

O nosso Amor, esse ficou sem tempo. Intemporalmente perdido.

Sim é verdade! Gostaria de voltar ao tempo em que as horas paravam no ar, consumidas pela nossa respiração, iluminadas pelas gargalhadas. Tu não?!

Um qualquer dia, num outro tempo, com horas diferentes, voltamos a parar o tempo.

Fica combinado.

Lá estarei pontual, um segundo antes da meia-noite...

maio 07, 2007  

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