25.1.06

Perdi-me um dia... Olhava a volta e não sabia por onde ir. Tudo era igual, tudo era cheio, tudo era sem caminho algum. As árvores em meu redor eram cada vez mais iguais, cada vez havia menos pássaros a conversar, menos perfume a terra, menos cantar dos riachos, menos carícias da brisa. A noite caia...
Já confuso, baralhado e atormentado, sentia-me como se fosse um amor sem paixão. Perdido e amargurado não queria mais ali estar. Não queria mais estar num sitio que não quisesse estar. Não queria mais estar na floresta que tanto tinha ambicionado. Ainda me lembro de meses a fio estudar o melhor percurso. Defini a minha rota e com um lanche preso num cajado segui caminho. Tudo em mim acreditava que estava a ir em direcção à felicidade. E quando estava quase a chegar perdi-me. Não tinha bussula, nem mapa, nem estrelas, nem nada...
Exausto, aconchego-me aos pés de um carvalho que repousava ao lado de uma orquidea. A meio da noite um barulho de passos desperta-me.
- Quem és tu e o que fazes aqui?
- Eu sou o Charme e vendo chocolates...
- Mas a quem vendes chocolates se não há aqui ninguém? -interrompi eu!
- Vendo a ti por exemplo!
- A mim? Mas eu não quero chocolate...
- Queres, queres!
- Mas eu não gosto do sabor...
- Estes chocolates não são de sabores... São de sentimentos!
Confuso e mal dormido dispus-me a escutá-lo.
- Vim agora do Vale do Amor. Vinha à pressa com o sapo e a gaivota.
- Mas não há gaivotas na floresta!
- Nesta floresta podem estar quem nós queiramos. Uma gaivota chamada Alice e um Sapo chamado Geremias. E eles vêm comigo desde o Vale. Eles comeram os chocolates!
- Mas onde é esse vale e o que são os chocolates?
O Charme olhou os meus olhos... espreitou a minha alma e deu-me um chocolate. Era preto com riscas lilázes fininhas em zigue-zague. Comi o chocolate e adormeci sem me despedir do charme da Alice e do Geremias.
No dia seguinte o sol raiava de novo... Reparava em cada árvore há minha volta, nas notas dos chilreares, nos mil aromas da terra, nos sonetos dos riachos. A brisa passava por mim como que uma mão percorrendo o meu cabelo. Aquela manhã estava a ser uma manhã como eu queria que as manhãs fossem! Olhei a minha volta e estava no mesmo local onde tinha adormecido mas tudo era mágico e diferente. Achava que não tinha chegado ao Vale do Amor mas estava ali bem... Procurei pelo Charme e de repente vi que afinal sempre tinha estado no Vale do Amor e que nunca tinha reparado. Afinal o Vale do Amor é maior que a terra, maior que os oceanos, maior que o MUNDO.
Um dia mais tarde encontrei a gaivota Alice e o sapo Geremias. Eles vieram ter comigo e disseram-me que a missão deles tinha sido cumprida e que agora eu tinha que cumprir a minha. Eles mostraram-me como ser feliz e eu agora tinha que fazer o mesmo. Admirado, disse-lhes que não sabia como. Que não conseguia fazer as pessoas serem uma coisa que na realidade não são.
- Aí é que te enganas... Todas as pessoas são felizes, são alegres e divertidas. O problema é que se esquecem disso... O problema é que vão aparecendo coisas na vida que as fazem esquecer disso. Ficam mais preocupadas com as coisas más que com as boas.
- E mais... - interrompia o Sapo Geremias. O problema é que procuram a felicidade em todo o lado e não a encontram... Ela está dentro de nós e nunca a encontramos.
- A felicidade é como o Vale do Amor sempre vivemos nele, mas procuramo-lo em toda a parte... (Come o teu chocolate e acorda no Vale do Amor, na Montanha do Amor ou na Ilha dos Amores. E se um dia procurares bem vais encontrar a Alice e o Coelho. Se não procura o Charme e pede-lhe um chocolate!)

- a n d r e - diz:
O começo desta história foi escrita por ti, e terminada para ti!

1 Comments:

Blogger Sininho said...

Obrigado resende...adorei!
E agora aqui no Rio vejo tudo ainda mais claro,entendo e absorvo cada palavra que escreveste...
Beijo enorme!!!
Saudades de vcs todos!
Portem-se!

maio 03, 2006  

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