17.2.11

Largo de São Vicente ao Campo de Santa Clara, ás terças e sábados das 7h ás 18h.O ritual repete-se, que se conheça, desde os tempos do grande terramoto. Na feira da ladra, compra se tudo, vende se mais ainda, e o preço faz quem melhor regatear.


Vai á feira da ladra quem gosta de um passeio desperto. Já dizia a Sra.(o nome de uma dessas velhas), “É preciso estar sempre alerta”. Pelo menos o nosso foi assim. Chegámos á hora da euforia. Todos se preparam para passar ao estado de regateadores natos, os que sempre o foram, e os que nunca haverão de ser. O sol aparece para acordar os mal dormidos.


Os panos estendem-se logo de madrugada. Há um policia empertigado sempre á vista, não se lembrem os ânimos aquecer. Armam-se as barracas. As carrinhas brancas fazem parecer a mercadoria pesada, mas não é na feira da ladra que o velho se vende como novo e o novo já é velho, porque passou de moda?

Conta quem sabe que a verdadeira feira começa de madrugada, ás 7 horas, quando o atraso do feirante dá direito a perda do espaço no passeio do costume. Panos, ferros, lonas estacas e cordeis compõem o estamine. Tudo o que se vende, legal ou ilegal, pertence ao património familiar, e tem uma historia de família. Da família de alguém.


A dona Laurinda, conta orgulhosa, faz a feira há 55 anos, agora nos seus 73 já lhe custa “porque o que se ganha já não compensa”, mas mesmo assim os seus olhos brilham quando fala da ladra antes do 25 de Abril. “ não havia cá bulhas nem zaragatas com os outros feirantes, a polícia não deixava e nem precisava de cá estar. Há uns tempos até tive que sair do meu sítio e vir aqui para cima.” E contínua a dizer “Está a ver aquela estátua, era ali que se enforcavam as pessoas antigamente, eu estava ali mesmo ao lado com a minha banca mas com estas confusões de agora menina, isto já não é o que era”. Ela que nem conhecia a feira da ladra, mas quando casou pela primeira vez veio para cá e nunca mais fez outra coisa da vida. “Eu sou reformada aqui da feira”, já o segundo marido não achava tanta piada.

O Senhor Vítor é reformado dos aeroportos, “eu trabalhei na ANA, e sabe á quantos anos estou aqui? Desde que nasci. A minha mãe já fazia as feiras e eu faço também”, Vender tudo o que arranjava, sempre que podia, é o seu escape.


Entre estas duas pessoas, que por sinal são as mais velhas da ladra, estavam lá a Alexandra e o marido, duas personagens surreais. Quer dizer, não diria surreias, mas deveras interessantes. Olhando para este casal não se percebe muito bem o que fazem na ladra, têm uma barraca toda arranjada, com lençóis e panos no chão onde todas a peças (velharias) encontram-se alinhadas com perfeição de antiquário...