7.5.06

Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito
Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias
E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.
Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino
Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne
Quis beijar-te num vago carinho agradecido.
Mas quando meus lábios tocaram teus lábios
Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo
E que era preciso fugir para não perder o único instante
Em que foste realmente a ausência de sofrimento
Em que realmente foste a serenidade.

Vinicius de Moraes

Consegues tocar-me agora?

9 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tudo o que é diferente é maravilhoso. Tudo o que é novo é diferente.
Dito isto, lembro-me das avestruzes. Metendo a cabeça na areia.
Vocês sabem (ou não) que a avestruz só mete a cabeça na areia quando está a ser atacada. Em minha opinião é uma forma estranha de defesa. Mas também, fossem vocês avestruzes só conheceriam outras tais. Todas fazem o mesmo.
Ás vezes penso como deverá ser bom ser avestruz.
Aiii a vontade de vos mandar todos passear e enfiar a cabeça na areia. Isso é que era!
Depois penso!
E repenso!
Não sou avestruz.
Vocês sabem que pior que não ser avestruz, é olhar em volta e ver umas quantas. É puxar-lhes o gasganete da areia, para uns minutos depois elas voltarem a enfiar-se lá dentro. Que coisa! Bolas!
Já cansa.

Conhecia mal, um desses avestruzes. Ele, por opção própria, acabou com a sua vida na passada quinta-feira. Já o conhecia vai para 10 anos. Viveu os últimos 2 anos viajando na américa do sul. Aluno de 17, bom ínico de carreira, largou tudo e foi viajar. Viveu um pouco por toda a américa do sul. Buenos Aires, Rio, SPaulo etc. Das últimas vezes que estive com ele tinha namorada. Uma brasileira. Linda. Tinha pais abastados que lhe subsidiaram as viajens. Tinha experiências. Muitas. Experiências de cheiro, de gentes, de pele...
Tinha tudo. Tinha aquilo que eu achava que gostaria de ter. Fazia o que muitos de nós sonhamos fazer.
Mas era um avestruz. Levou ao extremo tudo o que experimentou, tudo o que fez. A última experiência de todas, a mais desafiante ele não a conseguiu fazer: Viver!
Diz-se que "Viver não custa. Custa é saber viver".
Ser feliz é tão fácil. E nós fazemos com que não o seja todos os dias. Ser feliz é escolher o caminho dificil. Eu sei que tomo as decisões certas sempre que são dificeis.
A ele desejo-lhe que agora seja feliz do outro lado.
Peço aos outros que ficaram do lado de cá para pararem para pensar e reflectir. Mais e mais de nós somos avestruzes. Não é preciso ir para a china - como uma outra avestruz que conheço - para ser feliz. Eu consigo ser feliz em borba, em cinfães, no rio, em buenos aires, em lima, em nova iorque, em sidney... Consigo ser feliz desde que me sinta amado. Desde que eu não pare de amar. Amar aquilo que faço, amar vocês, amar-te a ti e ser amado. Não ser assim, não saber aquilo que quero, não vos ter comigo, isso é que eu não posso imaginar.

Ser feliz é simples.
Vocês complicam.

Espero não me crescerem penas e cada vez mais me parecer uma ave sem asas, metendo a cabeça na areia...

Mas, e tu? pequenina avestruz, diz-me, um dia vais levantar a cabeça da areia?

maio 08, 2006  
Blogger Z said...

Alfredo...
Lamento isso do teu amigo.




















Lamento mesmo.








Beijos.

maio 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

custa-me.
acredita, não tenho pena do teu amigo avestruz. não tenho pena nenhuma.
não sou má, mas custa-me ver que as pessoas não dão valor ao que têm.
não, não enumeres a felicidade que ele tinha, pelas coisas e pessoas que povoaram a vida dele.
não faças isso.

um dia ouvi uma pessoa muito sábia dizer que só os ricos se matam. Ricos de uma forma geral, porque efectivamente nunca vês alguem na mais completa miséria usar quaquer método para se livrar da sua vida.
e acredita que nem tempo têm para pensar nisso, porque o tempo perdido a arquitetar um plano maquiavélico para terminar a vida, termina inevitavelmente com a vida dos outros.

irrita-me essa pseudo insatisfação, irritam-me as pessoas que são tão egocentericas, irritam-me pedantismos de vidas quase quase completas...
... finalmente, irritam-me as pessoas que não sabem lidar com as dificuldades, e pior... que não sabem ver que não têm dificuldades.

ok, fala-me da alma das pessoas.

fala-me que não posso avaliar os outros.
diz-me que eu não sei o que se passa na cabeça de quem decide (e repara como é engraçado este processo de decisão) pôr fim à vida.

e eu digo-te que nem quero compreender.
que não vale a pena.
que não consigo
que não tento
que me irrita

ai problemas, problemas... esta vida difícil que temos. onde as nossas decisões são fúteis e banais...

nem consigo usar a minha ironia! nem consigo falar disto! bolas, será que até na hora da morte as pessoas só pensam nelas?

maio 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

estou em duvida se é crime de plágio ou de usurpação. conheces algum bom advogado?

maio 08, 2006  
Blogger Sininho said...

Nao devemos julgar ninguem pq ninguem estava perto do coração, naquele cantinho escuro e apertado onde se escondia a alma!
Avestruz porque viveu para ele..
Egoista porque não pensou no sofrimento que ia acabar por causar nos que o rodeavam e amavam ao fazer o que fez...
E entao, nao seremos nós os egoistas ao pedirmos para ele ficar , continuar a viver, a sofrer ou a tentar ser feliz?
Nao sei...

Avestruz como eu ou não, egoista como eu ou nao, sonhador e eterno descontente
MD,
que encontres a paz...finalmente!

maio 08, 2006  
Anonymous Anónimo said...

conheço vários bons advogados. Tu não?

bj

maio 11, 2006  
Anonymous Anónimo said...

« Il faut voir
le monde
tel qu’il est
mais vouloir
le changer
quand même»

maio 11, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Essa avestruz deixou saudade e alegria por onde passou...Era impossivel não gostar dela assim q se conhecia, assim q surgia o sorriso...
Custou...Doeu...A despedida não foi facil, mas não consigo nem julgar nem odiar, e ninguem tem esse direito.
Onde quer que estejas...continua a sorrir,nós cuidamos de quem tanto adoras por ti...

maio 11, 2006  
Anonymous Anónimo said...

O egoísmo é o que nos leva a ficarmos sós. Não sózinhos, apenas sós.

Temos todos "uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma."

maio 12, 2006  

Enviar um comentário

<< Home