6.12.05

Eu sou o solitário e nunca minto
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
Á luz crepuscular do meu instinto

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação de um deus extinto.

Sou seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pr’além do nó de angustia mais convulso.

Catilina – Sophia de Mello Breyner Anderson

2 Comments:

Blogger sónia said...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

...gosto muito de Sophia...
...parabéns pelo blog! continuem a escrever...faz bem à alma e ao corpo!

dezembro 18, 2005  
Blogger Colibri said...

Um feliz acaso trouxe-me aqui para partilhar das emoções da poesia, sobretudo desta obra prima.
Fraternalmente .'.

novembro 16, 2007  

Enviar um comentário

<< Home